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Desigualdade racial no mercado de trabalho cai a passos lentos

Negros ainda são maioria nos serviços domésticos e na construção civil

A redução das desigualdades entre negros e brancos no mercado de trabalho depende de iniciativas mais firmes do setor sindical, das empresas e dos governos. A avaliação é da diretora executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), Cida Bento, que acredita que o Brasil tem avançado na questão, mas a passos lentos.

"A situação está melhorando, mas de forma muita lenta ainda. Poderia ser mais rápido se as instituições assumissem esse objetivo", avalia.

Cida reconhece avanços recentes, como os apontados por levantamentos regionais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que apontam aumento da inserção dos negros no mercado de trabalho, melhoria dos rendimentos médios desses trabalhadores e ampliação do número de negros em cargos de chefia de 2004 a 2008.

No entanto, as diferenças ainda são profundas e os trabalhadores negros continuam ganhando menos e ocupando postos de menor qualificação e com menos proteção social.

"Falta o movimento sindical assumir o problema que ele tem que pautar. Tem que formar, provocar as empresas e incluir cláusulas de promoção de igualdade nos acordos de trabalho", sugere.

Ações desse tipo têm aumentado a participação de negros no setor bancário, por exemplo. Segundo Cida, 66% dos negros que trabalham em bancos foram contratados nos últimos três anos, após acordos entre trabalhadores e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com participação do Ministério Público do Trabalho.

"As empresas estão se abrindo e o governo pode atuar mais, com políticas mais específicas, com ações do Ministério do Trabalho. Há muitas possibilidades de avançar, e a sociedade brasileira está preparada para essa mudança".

Na avaliação da representante do Ceert, o principal gargalo para a redução das desigualdades ainda está na entrada do mercado de trabalho, pela discriminação racial em processos de seleção e recrutamento. "Os negros não conseguem ser promovidos, mas o problema maior ainda é a entrada, não conseguem sequer ingressar".

Negros são maioria em posições subalternas

O percentual de trabalhadores negros nos serviços domésticos e na construção civil ainda é maior que o de trabalhadores brancos nas mesmas funções. De 2004 a 2008, houve redução do número de trabalhadores negros nesses setores, mas a participação entre as raças ainda é desigual.

Relatórios regionais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com dados de seis regiões metropolitanas do país (São Paulo, Belo Horizonte, Distrito Federal, Salvador, Recife e Porto Alegre) apontam percentuais maiores de trabalhadores negros em postos de trabalho de menor qualificação, em que as jornadas costumam ser mais intensas e os rendimentos menores.

Em São Paulo, o levantamento apontou redução dos negros nos serviços domésticos, de 8,7% em 2004 para 7,7% em 2008. No entanto, entre os trabalhadores brancos, o percentual de trabalhadores no segmento era de de 6% e caiu para 5,7% no mesmo período.

No Distrito Federal e em Porto Alegre, o percentual de negros ocupados no setor de serviços domésticos é o dobro do número de brancos. No DF, 11,4% dos negros ocupados trabalham em atividades domésticas, contra 5,6% entre os não negros, por exemplo.

Na construção civil, a tendência é semelhante, apesar da maior proximidade entre a participação de trabalhadores negros e não negros no setor. De todos os negros ocupados na região metropolitana do Recife, por exemplo, 5,3% estão no segmento. Entre os brancos, o percentual é de 3,1%. Na capital gaúcha, os percentuais são de 7,3% e 4,3%, respectivamente.

 

Veja relato da primeira juíza negra do Brasil na seguinte página: "O racismo mata a alma e destrói o físico"

 

Fonte: Correio Braziliense