
Diversidade avança pouco nas empresas
A pesquisa, realizada pelo Instituto Ethos e Ibope Inteligência, teve um caráter voluntário e considerou o universo das 500 maiores empresas do país, por faturamento, de acordo com um ranking baseado no anuário Melhores e Maiores 2009, da revista Exame. A amostra considerou 105 das 109 empresas que devolveram o questionário totalmente preenchido.
Em decorrência dessa metodologia, o estudo pode não representar a realidade da totalidade das empresas do país. Apesar disso, o levantamento, que foi feito pela primeira vez em 2001, revela um crescimento muito lento na participação de mulheres, negros e portadores de deficiências, mesmo que restrito aos quadros de funcionários das empresas que responderam o questionário.
No evento organizado para a divulgação do estudo, o presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão, admitiu que o quadro é preocupante. Em um exercício aritmético, sem grandes rigores científicos, baseado na evolução dos números apontados pelas cinco edições da pesquisa, ele observa que, nesse ritmo, o Brasil levaria 35 anos para alcançar uma equidade no mercado de trabalho na questão de gênero e 150 anos na questão racial.
Comparada com a pesquisa anterior, feita em 2007, a participação feminina cresceu 2,2 pontos percentuais no nível executivo, passando de 11,5% para 13,7% do total. Nos níveis hierárquicos intermediários e na base, no entanto, a presença da mulher apresentou um decréscimo médio de 2 pontos. Quanto à população negra, que inclui pretos e pardos, seguindo a nomenclatura do IBGE, o estudo aponta um crescimento de 1,8 ponto percentual nos quadros de executivos, (passou de 3,5% em 2007 para 5,3% este ano), de 6 pontos no nível funcional e de 8,2 pontos no quando de supervisão. No nível gerencial, as resultados da pesquisa revelaram uma queda de participação dos negros de 3,8 pontos, passando de 17% para 13,2%, no mesmo período. Já a presença de mulheres negras em cargos executivos é de ínfimos 0,5%.
No caso da população portadora de deficiências, a taxa de participação na força de trabalho das empresas pesquisadas continua extremamente baixa, considerada a população total, que de acordo com o censo de 2000, chegava a 14,5% da população brasileira. Em nenhum dos níveis hierárquicos a taxa ultrapassa a 1,5%, o que significa que as empresas ainda não estão cumprindo a lei 8.213, de 1991, que estabelece a obrigatoriedade de destinação de pelo menos 5% dos cargos a pessoas com deficiências, dependendo do porte da empresa.
A nova pesquisa verificou ainda um discreto aumento (de 1 ponto percentual) no número de empresas que dizem contratar aprendizes, em comparação com 2007. No entanto, 43% delas ainda estão abaixo do mínimo exigido por lei, que é de 5% a 15%, dependendo do porte da companhia. Apesar disso, o contingente de jovens empregados por essas empresas está bem representado, com uma parcela de 19,3% com idade entre 16 e 24 anos, considerando-se que no perfil da população brasileira 17,4% estão entre 15 e 24 anos, de acordo com a PNAD 2009. O mesmo não acontece no caso da população com idade de 56 anos ou mais, que representam 2,5% do conjunto de funcionários das empresas que responderam ao questionário, embora 11,3% da população brasileira esteja na faixa acima de 60 anos.
Para o vice-presidente do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, que apresentou e comentou rapidamente os resultados, “os avanços têm sido muito pequenos, apesar da tendência real de crescimento da participação especialmente das mulheres e dos negros”. No caso dos portadores de deficiência, ele lamentou que as empresas não estejam sequer cumprindo a lei, indagando quais seriam as razões para essa realidade. Entre os motivos detectados pela própria pesquisa, ele destaca que as empresas, em geral, reclamam de grandes dificuldades para lidar com as questões.
Mas, de acordo com a vice-representante do Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher no Brasil (Unifem), Júnia Puglia, uma das integrandes da mesa que debateu os resultados da pesquisa, “as razões para a lenta evolução da inclusão social no país são todas conservadoras e retrógradas”. Para ela, “não existe nenhuma boa razão”.
Representando a Faculdade Zumbi dos Palmares, o advogado e professor Hélio Silva Jr. disse que “é preciso superar a armadilha de tornar o tema como algo benemérito”. Para ele, as empresas precisam se conscientizar de que a diversidade social traz resultados reais para a produtividade e a lucratividade do negócio e que é preciso uma conjugação de esforços para a realização de um “pacto em torno dessa agenda”.
O estudo foi produzido em parceria com a Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), com patrocínio do Instituto Unibanco e da Philips do Brasil e apoio institucional da Inter-American Foundation (IAF) e da Atletas pela Cidadania.
Além da composição por sexo, raça e presença de pessoas com deficiência, a pesquisa levantou informações sobre faixa etária, tempo de empresa e escolaridade dos dirigentes, funcionários e aprendizes das companhias em todos os níveis hierárquicos. Traz também as políticas e ações afirmativas eventualmente adotadas pelas empresas em favor da diversidade e da eqüidade e, ainda, a percepção do principal executivo acerca dessas questões.
Fonte: Instituto Ethos