
A Seu Dispor! Sociologia do Trabalho em Serviços
O livro "A seu dispor! Sociologia do trabalho em serviços", organizado pelo professor Jordão Horta Nunes, coordenador do NEST, foi lançado em Goiânia dia 10/11, na Biblioteca do SESC, Rua 19, Centro, das 19 às 21 horas. A coletânea, que já teve um lançamento no 35º Encontro da Anpocs, em Caxambu, conta com a participação de diversos membros do NEST: Lúbia Gonzaga Dutra, Marina Lemes Landeiro, Tatiele Pereira de Souza, Vanessa Alexandre de Souza, Alessandra Tenório Cerqueira, Matheus Guimarães Mello, Reycilane Chadud e Maria Fernandes Gomide.
O mundo do trabalho contemporâneo vivenciou um considerável crescimento nas ocupações de serviços, deslocando a importância econômica da indústria, que preponderou até meados do século XX. No entanto, o trabalho em serviços é heterogêneo e multifacetado, abarcando desde profissionais de alto nível de qualificação até serviçais humildes, por vezes trabalhando em condições precárias, no âmbito da informalidade. Este livro traz uma coletânea de artigos produzidos com base em pesquisas sobre atividades e ocupações de serviços em diversos setores, como alimentação, limpeza e conservação, transportes e outros. A análise emprega principalmente o instrumental das sociologias do trabalho e do consumo, enfocando o trabalho em serviços no Brasil e especificamente na Região Metropolitana de Goiânia. Há destaque em alguns temas que se tornaram relevantes na compreensão do trabalho em serviços na atualidade, como questões de gênero, identidade, associativismo e subalternidade.
O ponto de partida é uma revisão analítica das teorias e tendências que prevalecem na sociologia do trabalho em serviços, levando o leitor a se posicionar diante de questões básicas da problemática, como a relação entre serviços e consumo e os dilemas identitários na sociedade de serviços. As formas de trabalho precarizadas ou atípicas, muito frequentes no mundo dos serviços, apresentam raízes sociais e culturais que remetem a regimes de acumulação e modos de regulação hoje considerados superados ou de baixa prevalência. No entanto, enquadra-se melhor no enfoque deste livro a relação entre as heterogêneas ocupações de serviços e a construção da identidade social pelos respectivos agentes trabalhadores. Numa época em que se discute a importância da profissão e da situação laboral como fatores constitutivos da identidade social, é fundamental considerar como os trabalhadores incorporam subjetivamente, no decorrer de suas trajetórias ocupacionais, aspectos como a qualificação e a formação sistemática e especializada, velhos atributos de uma identidade no trabalho.
É inegável que a efetivação de um Estado de bem-estar social correlato a uma sociedade assalariada atenua os efeitos do desemprego e da exclusão do mercado do trabalho decorrentes das exigências de maior qualificação e polivalência funcional na indústria contemporânea e até mesmo em alguns serviços produtivos. Ainda que não tenhamos vivenciado plenamente, no Brasil, a consolidação de uma seguridade social à totalidade dos trabalhadores e seus dependentes, bem como de servidores inativos, torna-se mais evidente a influência de programas sociais de inclusão e da maior efetividade da previdência social sobre a autoestima e a revalorização identitária em situações de desemprego, informalidade e precarização. No entanto, no caso das atividades de baixa qualificação ainda vigora a subalternidade servil, agravada pelo próprio caráter de invisibilidade e imaterialidade que, para muitos autores, praticamente caracteriza e constitui o trabalho em serviços.
Os setores de turismo, hospedagem e alimentação constituem um tradicional abrigo para ocupações de serviços e esta coletânea analisa alguns casos exemplares nesse grupo, como trabalhadores em estabelecimentos de fast food e guias turísticos. A tríade empregador-funcionário-cliente desponta como base fundamental para a análise da classe de serviços interativos. O trânsito da informalidade e da precarização à regulamentação e profissionalização constitui outro tema, subjacente na análise de outras ocupações: mototaxistas, contínuos e musicistas. A valorização positiva do self e a negociação simbólica e estratégica para ganhar o reconhecimento despontam no exame do trabalho de socorristas de resgate. Também são importantes a herança do trabalho doméstico e a naturalização de identificações de gênero culturalmente estabelecidas, que emergem em atividades de limpeza, manutenção, higiene e beleza, analisadas no final da coletânea.
O leitor interessado na sociologia do trabalho em serviços encontrará nos nove artigos que compõem este livro uma boa introdução a um tema de pesquisa que, embora relacionado a importantes transformações recentes no mundo do trabalho, ainda não se consolidou na produção sociológica, tradicionalmente mais voltada à análise de profissões e ocupações de nível de qualificação mais elevado.
Fonte: NEST