
Mulheres brasileiras no espaço público e privado
Pesquisa avalia evolução da divisão sexual do trabalho e tempo livre na sociedade brasileira
A pesquisa Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, por meio de seu Núcleo de Opinião Pública, e em parceria com o SESC, apresenta a evolução do pensamento e do papel das mulheres brasileiras na sociedade. Entre os temas abordados no estudo estão: Percepção de Ser Mulher: Feminismo e Machismo; Divisão Sexual do Trabalho e Tempo Livre; Corpo, Mídia e Sexualidade; Saúde Reprodutiva e Aborto; Violência Doméstica e Democracia, Mulher e Política.
A introdução do recorte de gênero é a grande inovação deste estudo que desta vez ouviu mulheres e homens sobre a situação da mulher brasileira. Os resultados podem ser comparados aos do estudo realizado pela FPA em 2001. Essa comparação aponta melhorias na situação da mulher, mas também comprova que há um longo caminho a percorrer na valorização e na inserção da mulher na sociedade.
A pesquisa foi realizada em agosto de 2010 e ouviu a opinião de 2.365 mulheres e 1.181 homens, com mais de 15 anos de idade, de 25 unidades da federação, cobrindo as áreas urbanas e rurais de todas as macrorregiões do país. O levantamento envolve a inclusãode 176 municípios na amostra feminina e 104 na masculina. A margem de erro da pesquisa é entre 2 e 4 pontos percentuais para mulheres e entre 3 e 4 pontos para os homens, em ambos o intervalo de confiança é de 95%.
Entre os temas abordados, a violência é o que chama mais atenção na comparação com a pesquisa anterior. Com relação à violência doméstica, em 2001, foram 12 modalidades abordadas; em 2010, foram 20. O tema Aborto foi mais aprofundado, entre os dados, estão os motivos que levaram muitas mulheres a terem abortado, como a falta de condições econômicas para ter um (ou mais de um) filho e a falta de uma relação estável e apoio do homem de quem engravidaram.
Com relação ao tema trabalho, cerca de metade das mulheres (52%) está na População Economicamente Ativa (PEA), contra quatro em cada cinco homens (79%). Uma em cada quatro declara-se dona-de-casa (25%).
Entre as que estavam fora da PEA mas já tinham feito trabalho remunerado (24% das mulheres, excluídas as aposentadas), as razões para terem parado de trabalhar concentram-se nos papéis tradicionais de gênero, como ter e cuidar de filhos (30%), dar conta do trabalho doméstico (16%) ou por terem casado (12%). Uma em cada três (35%) diz ter parado por razões do mercado (demissão, falta de oportunidade, salário insuficiente etc.).
Entre as que estavam na PEA em agosto de 2010, apenas uma em cada três (36%) exerciam atividade remunerada no mercado formal, situação em que estavam mais da metade dos homens (56%).
Embora majoritária, permaneceu estável entre 2001 e 2010 a preferência de pouco mais da metade das mulheres por “ter uma profissão, trabalhar fora de casa e dedicar-se menos às atividades com a casa e a família” (56% hoje, 55% antes), em vez de dedicar-se mais a estas, “deixando a profissão e o trabalho fora de casa em segundo lugar” (37% hoje, 38% antes).
Como em 2001, cerca de uma em cada cinco mulheres (19% hoje, 18% antes) declarou-se a principal responsável “pelo sustento da casa e da família”. Somadas a outras mulheres indicadas (sobretudo as mães), quase um terço dos domicílios (30% hoje, 29% antes) tem uma mulher como principal provedora. Na maioria dos casos, indicaram como tal algum homem (64% hoje, 66% antes), sobretudo o próprio cônjuge (47% e 48%).
Em resposta múltipla sobre quem chefia a família, duas em cada cinco mulheres (39%, antes uma em cada três, 35%) indicaram alguma mulher do domicílio; 62% (co)indicaram algum homem (antes 66%), principalmente o cônjuge (46% hoje, 49% antes).
Incluídas as 5% que moram sozinhas (antes 3%), mais da metade indica alguma mulher no domicílio como “principal responsável pela administração da renda familiar” (57%, antes 49%), sobretudo elas próprias (hoje 36%, antes 31%), superando os homens (hoje 42%, antes 50%), com destaque para os próprios cônjuges (31% hoje, antes 37%).
A despeito desses avanços, a responsabilidade “pela orientação e/ou execução dos afazeres domésticos” continua fortemente concentrada nas mulheres (hoje 91%, antes 93%), sobretudo nas próprias entrevistadas (69% hoje, 72% antes).
A jornada semanal média de trabalho doméstico das brasileiras é de 29 horas e 21 minutos, somando-se o tempo dedicado a “serviços de limpeza, cozinhar, lavar e passar roupa” (17h44’), cuidado com crianças (10h) e com pessoas idosas ou doentes (1h37’), contra 8 horas e 46 minutos declarados pelos homens (ou 6h15’, segundo o relato das mulheres) – ou seja, de três a quatro vezes menor que a das mulheres.
Práticas à parte, em tese, a maioria de ambos os sexos concorda que:
- “homens e mulheres deveriam dividir por igual o trabalho doméstico” – opinião de 84% dos homens e 93% das mulheres hoje (antes 87%);
- “quando têm filhos pequenos, é melhor que o homem trabalhe fora e a mulher fique em casa” – 79% e 75% (85%), respectivamente;
- “a mulher é quem deve decidir sobre o trabalho doméstico, não importa quem faça” – 64% e 67% (71%);
- “é principalmente o homem quem deve sustentar a família” – 62% e 51% (65%);
- “o cuidado com doentes e idosos na casa deve ser da mulher” – concordam 42% dos homens e 43% das mulheres hoje (antes 54%), discordam 44% e 47% (antes 42%), respectivamente;
- “os homens, mesmo que queiram, não sabem fazer o trabalho de casa” – concordam 49% dos homens e 45% das mulheres hoje (antes 55%), discordam 41% e 47% (antes 39%), respectivamente.
Consideram-se totalmente satisfeitas “com a maneira como passam seu tempo livre” 57% das mulheres hoje (o mesmo que em 2001, 55%), contra 63% dos homens.
Com taxas mais próximas às dos homens, consideram-se totalmente satisfeitas “com sua capacidade de tomar decisões” 67% das mulheres hoje (antes 59%), contra 74% dos homens; e “com sua família” 79% das mulheres hoje (antes 70%), contra 83% dos homens.
Clique aqui para baixar a pesquisa na íntegra.
Fonte: Fundação Perseu Abramo